Correlato

Foto: Don McCullin, Soldado Americano ferido no fronte. Vietnã.
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Podemos olhar para uma fotografia e não encontrar nela nada que seja capaz de nos tocar. Há várias razões para que isso aconteça. Uma delas é o fato de que a fotografia, como de resto acontece com quase toda a obra mimética, fala a cada um segundo o seu próprio valor intelectual. Outra razão pode estar no fato do fotógrafo não ter habilidade de composição ou intenção de trabalhar a imagem para que esta produza uma mensagem que ultrapassasse o seu mero registro imediato, não tendo, portanto, outro sentido possível, a não ser àquele que a fez. Já quando o fotógrafo trabalha a imagem organizando os elementos a sua vista, de forma a estes desencadearem uma carga emocional no espectador, diz-se, então, que ele empregou os recursos capazes de formar uma composição significativa. Tão significativa que ele é capaz de mobilizar as emoções do espectador valendo-se apenas dos artifícios da composição. Na fotografia, a composição é tudo. O melhor fotógrafo não será aquele que espera que o acaso o premie com uma foto, que o distinga dos demais. Para que uma imagem resulte bem o fotógrafo terá que trabalhar a composição. Para isso, ele precisa organizar os elementos a sua disposição em: grupos de objetos, em situação, ou numa cadeia de eventos, de modo que os fatos internos da foto evoquem correlatos (entenda aqui como correlato, aqueles elementos comparativos que se faz entre duas coisas que se assemelham) que possam causar no expectador a emoção desejada. Tomemos, para tornar a compreensão mais simples, o exemplo da fotografia acima. Ela foi feita pelo fotojornalista Don McCullin. Na década de 70 ele cobriu a guerra do Vietnã. Durante uma incursão com os soldados americanos a um cerco numa vila vietnamita ele flagrou, em meio a refrega, um soldado ferido nas pernas, sendo socorrido por dois outros militares. A foto é um primor de composição. Nela McCullin enquadra os soldados tendo como referência as imagens de Cristo sendo retirado do calvário. De pronto a foto comoveu o mundo e de alguma maneira precipitou a retirada das tropas americanas que há décadas combatiam sem sucesso no Vietnã. Ao evocar a figura de Cristo em meio aos horrores da guerra, prefiguradas na imagem de um soldado ferido, McCullin provoca no espectador aquela carga de emoção que ele um dia já sentiu enquanto era doutrinado pela iconografia religiosa. A concepção fotográfica de Don McCullin elaborada do ponto de vista da religiosidade, apela aos sentimentos cristãos dos espectadores. Aludindo a figura piedosa de Cristo martirizada no madeiro, ele faz da foto um objeto significativo e capaz de falar a muitos pelo aparência, que vagamente faz uma foto de um soldado, se assemelhar a imagem de Cristo crucificado.

Pintura: A flagelação de Cristo. Caravaggio - 1607.



Erasmo Carlos - A Carta Do Índio


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Erasmo Carlos - A Carta Do ìndio

(Adaptação da Carta escrita em 1855 pelo Cacique Seattle da Tribo Dwamish - USA)..

O grande chefe branco
Quer comprar as nossas terras
Quer nossa amizade
Mas não precisa dela
Tão certo como as estações do ano
Trarão armas na certa
Pela paz dos nossos filhos
Vamos pensar na oferta
Ninguém compra ou vende o céu

Nem o calor da terra
Como podem comprá-los de nós?
A ganância do homem branco
Empobrecerá a terra
Deixando desertos e sóis
Jamais se encontra a paz
Na cidade do homem branco

Não se ouve a primavera
Nem o crescer do campo
Porém, se aceitarmos a oferta,
Imporemos condições
Daremos nossas mãos
Homens, animais e árvores
Vivendo como irmãos
Mais depressa que outras raças
O branco vai fazer
A sua desaparecer
Restará o fim da vida,

Mulheres tagarelas,
E a luta pra sobreviver
[Como um recém-nascido
Ama o bater do coração de sua mãe
Se vendermos nossas terras
Ama-a, como nós a amávamos
Protege-a, como nós a protegíamos
Ferir a terra é demonstrar
Desprezo pelo criador

Com força, poder e coração
Conserva-a para teus filhos
Nosso Deus é o mesmo Deus
Esta terra é querida por ele

Nem mesmo o homem branco
Pode mudar o nosso destino comum
Cacique Seattle,
Tribo Duwamish,
Washington, 1855,

Estados Unidos da América do Norte]

Os nossos grandes lideres e seus amantes

Foto: Cornell Capa, California. 1960.
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Um giro à volta e tem-se a impressão que, o mundo converteu-se ao fanatismo. As pessoas andam endeusando tudo: partido, seitas, agremiações, políticos, etc. Com predileção atualmente pelo deus partido. A ninguém parece suposto alguma dúvida, sobre seus pontos de vista. Enfronham-se nas bandeiras e defendem as suas cores, e não pressentem que elas exalam odores desagradáveis. Quem atentar para o que dizem as vozes que ecoam dos gabinetes e mansardas, não deixará de perceber que de lá falam todos aqueles que se sentem na posse da milagrosa bússola que aponta para o norte das decisões capazes de nos resgatará a felicidade geral. A dar ouvido a estas vozes, tenho a impressão que, será outro, o destino dessa grande nau em que todos nos metemos. Não falo isso aos amigos, porque chegamos ao estágio em que eles pressupõem que onde há crítica há desamor.

O monstro e o homem civilizado


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Há tempos ouvi de alguns amigos, que sofriam com medo da escalada da violência na minha cidade, o pedido de que as autoridades públicas locais, interviessem no caos instaurado e providenciassem soluções imediatas. Para minha surpresa os amigos não pediam mais escolas, mais saúde, mais justiça social para todos. Não lhes ocorriam que a fonte da violência pudesse estar na ausência desses bens às comunidades mais fragilizadas, mas numa suposta degeneração moral de alguns, somente corrigida com o amparo de velhos métodos domésticos. Eles clamavam pela imediata vinda da polícia do cerrado. Queriam o que de mais truculento, torpe e desumano, pode haver em matéria de polícia e se negavam a acreditar em outras alternativas além dessa. A solução sugerida, como visto, era a instauração de uma força policial que todos reconhecem como desrespeitosa dos direitos humanos, mas acredita, mesmo assim, ser esta postura um dado menor, quando está em causa a "restauração da paz e da ordem". Paz à custa de cassetetes e coturnos não é paz. Um Estado civilizado responde as demandas com racionalidade e espirito moderno. Vejam o caso que noticiam hoje os jornais. Vem do norte, a notícia de que uma juíza norueguesa decretou justa, a causa do extremista Anders Behring Breivik que, acusa o Estado Norueguês de lhe implicar um regime prisional desumano. Breivik está em completo isolamento. Desde que sua mãe morreu há três anos ele não tem mais contato com ninguém. Todos vão se lembrar de Breivik, ele está preso por ter assassinado cruelmente 77 pessoas na Noruega em 2011. Fez isso movido pelo ódio de imigrantes e contra o multiculturalismo. De pronto uma onda de intolerância passou a criticar a ação da juíza. Nos jornais os comentários reprovam, peremptoriamente, a ação que deu causa ao pedido do assassino. Invocando uma pretensa justiça que pensávamos superada desde Hamurabe, seguem-se discursos não condizente com quem acredita realmente na paz e na justiça. “Haviam de lhe fazer o mesmo que ele fez aos 77 seres humanos.” Diz um dos que comentam a matéria dos jornais. “...esses facínoras do oriente e do ocidente estão muito acima do nosso fraco poder de exaltar ou de rebaixar... Mata 72 pessoas e ainda é indemnizado! Kkkkkk.”, outro não deixa por menos e emenda. Causa-me espanto que, em pleno século XXI, alguns ainda não entendam que o horror dessa besta humana, não pode ser respondido por uma nação civilizada, com outra força, senão a lei dos direitos humanos que ele ignora e combate. Quando a vida se bestializa, ao ponto de andarmos clamando nas ruas o sangue dos monstros, passamos e nem percebemos aos estados primitivos que nega-nos o direito de sermos chamados Humanos. Ao nos barbarizarmos como aqueles que causa-nos espanto pelo seu comportamento deplorável, descemos como eles ao rés do chão e não podemos pedir justiça, porque esta não entende esse chamado para fazer derramar o sangue de quem quer que seja. Independente do fato monstruoso que ele cometeu, e por mais repugnante e inquietante que possa ter sido o seu comportamento, nada justifica que um Estado civilizado, infrinja seus valores e sua moral para se ombrear com os que querem que o ódio vença todas as causas. Não é uma questão de somenos importância. É por aqui que começa a distância entre um monstro e um homem civilizado.

Elefante manso

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Não temos uma revista dedicada à literatura. As editoras que um dia se preocuparam com a qualidade literária pagaram o preço dessa ousadia e hoje se encontram de portas cerradas.  Nos jornais, os suplementos literários, que já foram palco para grandes discussões, deixaram de ser importantes e desapareceram das páginas dos diários. Com eles sumiram também a figura do crítico, do ensaísta, do polemista e do intelectual, naqueles termos que postulava Ortega y Gasset em: A Rebelião das Massas, o indivíduo que: aclarava um pouco as coisas, enquanto os outros, pelo contrário, costumavam consistir em confundi-la mais do que já estavam.

Todas essas notícias deveriam nos sugerir que não andamos a ler nada e não estamos nem um pouco interessados com o mundo à nossa volta. Mas estranhamente, ocorre precisamente o contrário. Diz-nos um jornal português que, nunca andamos tanto com um livro à mão como agora. Nunca estivemos tão à frente do mundo no quesito consumo de livros como nesse instante. Ninguém nos faz sombra, estamos na crista da onda. Podem se rir, achar que é tontaria, desequilíbrio, mas o fato é este mesmo, nunca tivemos tantos livros em nossas casas como hoje. O mundo nos inveja.

Mundo estranho. Justamente quando passamos a ser os maiores consumidores de livros do mundo amargamos estatísticas que não condizem com um público ilustrado pelas letras. Ou vão me dizer que acham normal não termos revistas, jornais e intelectuais pensando e dialogando com esse mar de gente que anda a ler incessantemente? Talvez o fato de estarmos todos enfronhados pela cultura do entretenimento e da massificação, que rebaixou tudo ao nível das mentalidades debiloides, expliquem melhor esse fenômeno quimérico que é o Brasil de hoje.


Não somos leitores com letra maiúscula. Não estamos ansiosos em ler para nos encorajar a desempenhar o papel clássico do elefante na loja de porcelana. Somos na verdade consumidores de bens culturais que são vendidos pelos discursos persuasivos e aliciantes da publicidade. Basta-nos que o livro nos consinta o status simbólico de posse de algum bem, e assim ele terá cumprido o seu valioso papel de fazer-nos sentir menos estúpidos, diante de um mundo que só reconhece o valor material e que foi convertido ao atrativo comercial sem nenhuma reserva moral. 

Rogério Duarte rumo aos planetas celestiais.

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Deixou-nos ontem, três dias após completar 77 anos de vida, Rogério -Raghunatha Dasa- Duarte, Rogerio Duarte. Ele foi um ícone de nossa cultura. Sob sua batuta, o movimento Tropicalista ganhou forma e cores. Foi ainda importante na criação estética dos cartazes do cineasta Glauber Rocha.

Para mim, porém, ele significou um verdadeiro achado. Quando li a sua belíssima tradução do venerável livro Bhagavad Gita: Canção do Divino Mestre, que ele lançou em 1998, fui tomado por uma experiência que alterou a minha vida para sempre.

Sua intensa luz de amor à vida e sua sabedoria das coisas imperecíveis, ensinou-me que esse estágio da vida tem: percalços e acidentes, assim como alegrias e prazeres, não estando nenhum desses sentimentos acima nem abaixo, mas fazendo parte de um todo, que precisamos aceitar e não desistir das lutas ou nos afeiçoarmos demais aos prazeres enganosos.

"Lute apenas por lutar
sem pensar em perda ou ganho,
em alegria ou tristeza,
em vitória ou em derrota,
pois, agindo desse modo,
você, nunca pecará."

Estar atento aos enganos possíveis


Foto: Rocco Morabito, The kiss of life. 
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Por retratar um instante e não a sequência de ações que a envolvem, a fotografia, por vezes, se presta a dubiedades ou sugestões falsas. A primeira vista, a foto que ilustra o nosso texto de hoje, pode sugerir uma ideia equivocada. O que parece ser um beijo amoroso, entre dois homens que se entregam a luxuria dependurados no alto de um poste, é na verdade uma tentativa de ressuscitação. “The Kiss of Life" foi a imagem vencedora do Prêmio Pulitzer de 1988. Ela foi tirada pelo fotógrafo americano Rocco Morabito (1920-2009).

Em uma manhã de 1987 quando Morabito estava a caminho de uma pauta, encontrou a cena inusitada em que o operário J.D. Thompson tenta salvar a vida de seu companheiro de trabalho, Randall G. Champion após este ter recebido uma descarga de alta tensão. A imagem mostra Thompson fazendo uma respiração boca a boca, enquanto aguarda o resgate. Essa imagem exemplifica bem o quanto um registo fotográfico pode induzir a um erro de interpretação quando está fora de contexto.

Em termos artísticos, a fotografia tem licença para enganar o olhar através da sugestão de realidades falseadas. Esse é um imperativo das expressões artísticas. Porém, quando não está a serviço da arte, o malogro pode ser um perigoso instrumento de manipulação de desavisados, sobre os usos possíveis de uma imagem. É preciso então, estar atento, para não ser enganado por uma ideia falsa, sugerida por uma imagem fora de contexto ou vista de forma apressada e julgada de modo esdrúxula, apenas por parecer que assim é, porque lhe convém. 


Feira de Caetité

Foto: Rogério Soares. Feira de Caetité, 2016. 
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Tomei coragem e desci hoje ao mercado para tirar algumas fotografias. Há tempos vinha planejando esse ensaio. Mas um receio bobo de sair à rua, bisbilhotando a vida alheia, e mais, o temor de ser enxovalhado por alguém que, não gostasse da ideia de ser alvo de uma lente indesejada, foi adiando o meu propósito para bem mais tempo do que o previsto. Porém, hoje não me contive. Corri ao mercado e tirei algumas fotos. Não me demorei por lá. Dei apenas uma volta em torno do mercado e logo retornei para casa. A experiência, como vocês podem ver no post, não correu lá muito bem. O resultado não foi dos melhores. As fotos não resultaram bem, e por mais que me esforçasse elas não passaram de clichês. Estão bem longe de atingirem aqueles pequenos instantâneos da vida, que tornam o registro fotográfico um momento de revelação de outros significados para as coisas. Creio que isso se deve a três fatores:

1.     Tomei demasiado cuidado em solicitar as pessoas que me autorizassem a fotografá-las. Isso teve como consequência, indesejada, a perda da espontaneidade da foto. Ninguém diante de uma câmera age naturalmente. Nas raras situações em que pude visualizar algo de interessante, pruridos morais me frearam os anseios e lá fui eu pedir licença para fotografar.

2.         Não domino ainda os dois princípios básicos para fazer uma boa fotografia: a técnica e a expressão.

3.      Fiquei demais preocupado em não fazer figura de parvo na feira e não me concentrei naquilo que realmente queria fazer: boas imagens fotográficas.

Mesmo não tendo alcançado bons resultados nos registros de hoje, tomei ao menos umas boas lições e espero emendar os meus defeitos em outras incursões. Agora estou mais atento à geometria da composição, à luz, aos contrastes, aos pormenores e ao uso dos espaços como parte da mensagem daquilo que pretendo dizer com a imagem. Não sendo lá grande coisa, os registros de hoje tiveram ao menos o mérito de me ter permitido, superar alguns temores e ainda me ter feito descobrir alguns novos elementos possíveis na composição. Vá lá que, nem tudo foi assim, tão ruim.

Foto: Rogério Soares. Feira de Caetité, 2016.

A política nacional

O TRIUNFO DOS PORCOS.
As eleições existem para coroar o triunfo dos porcos. Penso que essa impressão apenhei lendo Orwell ou foi em 36 anos de vida... Já não sei mais o que é literatura e o que é realidade. Sei apenas que a afirmação procede.

À FLOR DA PELE
Penso que já vivi o suficiente para não mais escandalizar-me com a política. Mas a política é implacável e produz todos os dias bons motivos para nos deixar com os nervos à flor da pele.

FAUNA POLÍTICA
São tantos os nomes de animais que qualificam o eleitorado que ao fim e ao cabo das eleições têm-se a impressão de que chamar um eleitor de besta não se configura uma ofensa e sim um elogio.

FÁBULA

A corrida por um lugar nos gabinetes governamentais já começou. Daqui a pouco os mais civilizados entre os nossos deixará de pensar como gente e assumirá o seu posto de besta.

A vida em círculo

Ao ler a Odisseia,

uma obra que conta

milênios de existência,

têm-se a impressão de que

a vida sempre foi o que é:

uma sucessão de desencontros,

paixões mal resolvidas,

malogros, angustias

e lutas encarniçadas,

movida pela ambição

mais desmedida...


Rogério Soares


Grandes fotógrafos Brasileiros

Foto: Araquém Alcântara.
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A fotografia brasileira é inteiramente dominada por um nome: Sebastião Salgado. Os trabalhos desse mineiro são obras primas da fotografia. Ninguém parece capaz de lhe fazer frente, tamanho empenho ele dedica às suas produções. Diz-se que ele faz fotografia como um pintor compõe um quadro: preocupado com a harmonia e o equilíbrio das formas. 

É ainda importante a atenção dada por ele a textura dos motivos. Saltam aos olhos dos seus admiradores os microcontrastes que surgem das imagens que ele captura. Não se perde nenhum detalhe da imagem que Sebastião faz. Isso se deve a escolha acertada do preto-e-branco na composição das suas imagens. O PB torna mais perceptíveis os tons, os contrastes e os pormenores da imagem tornam-se evidentes. 

Por tudo isto, não falta também quem afirme, que ele alcançou uma qualidade em seus registros que só encontra precedente em outros nomes maiúsculos da fotografia: Cartier-Bresson, W. Eugene Smith... Nenhum de seus trabalhos parecem menos que perfeitos. Creio não estar exagerando. 

A excelente reputação que construiu, tornou Sebastião Salgado um nome incontornável. Mas o que é a glória para uns, pode bem ser o tormento para outros. Por seu gigantismo, Sebastião Salgado, acabou por fazer sombra a muitos outros bons fotógrafos nacionais, que não têm, como ele, a devida atenção do público, nem gozam do prestígio merecido pelos méritos incontestes que demonstram. 

Porém, ao olharmos com atenção mais detida, talvez vislumbremos outros nomes, que se não chegam a impressionar como Salgado, ao menos têm o mérito de nos prender demoradamente a atenção. E em tempos fugazes, onde o mote da vida é a aceleração do tempo, não pode existir qualidade maior no trabalho de um fotógrafo, do que este de deter o olhar do expectador, e o capturar em horas mais alargadas de atenção sobre o objeto apreciado. 

Um desses nomes é o do fotógrafo Araquém Alcântara. Com mais de quatro décadas de trabalho ele faz valer as horas que se gastam em apreciar tudo o que ele faz em termos fotográficos. No site que mantêm na internet podemos vislumbrar um pouco dos seus inúmeros trabalhos. O que se evidência ali, além das qualidades fotográficas evidentes, são as ocorrências de alguns temas. 

Um dos seus prediletos, parece ser: as paisagens naturais do Brasil. Isso talvez se deva ao fato dele combater obstinadamente as agressões que põem em risco a exuberante natureza nacional. A fotografia para Araquém confunde-se com o ativismo ambiental. Ele não esconde que é um fotógrafo, como ele mesmo gosta de dizer, “engajado”. 

Além das paisagens ele insere em suas incursões os motivos humanos. Quando ele se volta para estes, emergem pulsantes personagens. Todos eles são facilmente reconhecidos por nós brasileiros. Mas alguém que não os conhecessem, também os apreciariam. Pois são expressivos e dizem mais do que as circunstâncias geográficas sugerem. Os cenários em que figuram esses tipos, ressaltam as regiões que formam o país uma unidade na diversidade. 

Através das lentes de Araquém vislumbramos um Brasil que, longe dos grandes centros urbanos, vive e celebra a sua riqueza. São fotos de enorme qualidade e mestria técnica, que nos revelam um país, cheio de vida e de dinamismo, sobre o qual ninguém consegue ficar indiferente. Mesmo que se tenha uma sombra encobrindo a sua presença, a fotografia de Araquém se faz perceptível. 



Foto: Araquém Alcântara. 



Em vão

Hoje, queria estar a salvo do meu país
Mas ele me invade sem ao menos pedir licença.
Bate a minha porta com violência
e estende os braços para pegar-me.

Tende paciência, em vão, lhe peço.
Não quer sabe e se precipita
E me arremessa, para fora de minha morada.
Antes, arranca-me os livros e as roupas
Tomando-me todo o meu abrigo.

Assim, com pressa, atira-me à rua
Sem querer saber se estou
Com isso em desacordo.
Pudesse ouvir-me saberia ele
Que não era esse o país que desejava.


Rogério Soares

Sismógrafo

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Há no coração do homem uma falha de San Andrea que nenhum geógrafo explica.

Fotografar pessoas: os pequenos episódios da vida

Foto: Rogério Soares. Romeiros do Bom Jesus, 2015.
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Em fotografia, interessa-me pouco aqueles temas que não estejam relacionados a pessoas. Não tenho gosto pelas paisagens, apesar de admirar Ansel Adams. Enfada-me fotos do pôr-do-sol. São puros clichês. As flores do campo e os montanhas silentes, não me atraem tanto que façam deles temas de interesse. Também não encontro outra coisa a não ser tédio, nas fotos de arquitetura. Quem consegue passar horas percorrendo as formas de um prédio e de um interior de casa e ainda assim achar naquilo algum interesse maior do que o mero passatempo das horas mortas. Há bem mais coisas no olhar de um homem e nas formas de um corpo que em toda paisagem natural, ou nas figuras geométricas de uma forma arquitetônica. Sem gente os lugares ficam vazios e pouco ou quase nada dizem de relevante, que mereça um registro fotográfico sério. Os motivos humanos são bem mais atraentes. Por isso os dramas humanos em suas múltiplas facetas produzem melhores temas para a fotografia. Mas quem escolhe esse tema, deve estar atento ao fato de que, fotografar pessoas é, acima de tudo, uma atividade que requer muito bom senso. Sei bem dos riscos da natureza da abordagem desse tema. Estar-se sempre correndo o perigo de que as pessoas que você fotografe não gostem da ideia de ser flagrada em sua privacidade. Por certo, existem boas razões para as pessoas manterem a intimidade de suas vidas resguardada de olhares bisbilhoteiros. Por essa razão, sempre que vou fotografar alguém, ou mesmo depois de já ter feito a fotografia, (são sempre tentadores os temas inesperados) peço à pessoa que me autorize a fazer o registro ou que me licencie a foto, depois dela feita. Caso elas recusem - algumas vezes isso acontece - respeito as vontades e apago na frente da pessoa o registro indesejado. Em outras ocasiões as pessoas recebem bem a proposta e se mostram muito dispostas a serem fotografadas. Ocorreu isso ao fazer a foto desses simpáticos romeiros mineiros que estavam de visita ao Santuário do Bom Jesus. Eles me contaram que há décadas visitam a cidade e trazendo consigo, como acompanhante dessa jornada, as suas distintas senhoras. Na ocasião da foto eles já havia visitado o Santuário e entregue ao Bom Jesus as suas preces. Como fazem, em todas as visitas, depois de cumprirem os seus votos sagrados, eles partem para o primeiro bar que encontraram, para desafogar o desejo de provar outras riquezas da terra sagrada. Foi lá que eu os encontrei. Alegres e descontraídos eles me pareceram bem mais jovens do que as imagens da foto depois me sugeriram. O registro dessa foto me fez pensar que: Fotografar pessoas é extremamente gratificante e enriquecedor. Há uma vida e uma história por trás da foto. Há uma singularidade nela que mesmo imperfeita a torna valiosa.  Além do maior interesse em pessoas o que me atrai, neste tipo de fotografia, é o desafio que ela constitui: não é fácil, do ponto de vista técnico, obter o efeito necessário para que a imagem resulte bem. As fotos de pessoas, diferentes de paisagens inócuas, requerem do fotógrafo uma maior atenção àqueles que deseja registrar. Por todos esses motivos e muitos outros gosto de fotografar pessoas e pequenos episódios da vida. 

Uma aventura inesquecível

Hoje 2 de abril comemora-se o dia Internacional do Livro Infantil. Nas mãos dos pequenos o livro se torna o primeiro transporte de uma aventura que eles jamais esquecerão. Das leituras apanhadas na infância, os miúdos aprenderão as lições que podem desvendar os caminhos mais seguros na jornada pela vida. O bom livro literário oferece ao pequeno leitor a possibilidade de satisfazer a sua criatividade, fertilizar a sua imaginação e animar os impulsos de aventura que os fazem reconhecer o mundo como a morada de todos. A leitura aproxima a criança e o jovem à vivências e saberes que expandirão sua visão de mundo para além dos horizontes domésticos. A leitura abre com isso horizontes possíveis e instiga visões alternativas das realidades dadas. Ela faz com que as crianças interroguem, questionem, comparem, avaliem... Ler ainda é divertido. São nas horas com o livro que partilhamos os melhores momentos de nossas vidas. Felicitações a todos os profissionais do livro que fazem as alegrias de crianças de todas as idades.