Recear as leituras clássicas, estratégia moderna para formar leitores.

 Foto: André Kertész | Série On Reading
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Tenho observado alguns especialistas preocupados com o desinteresse dos alunos nas leituras escolares. Aqui está uma. Por ora nenhum dos seus argumentos me convencem. Apenas reforçam as opiniões que tenho sobre os clássicos. Eles são insubstituíveis. Inquieta-me sempre uma coisa nessas pesquisas. Observo que em quase todos os especialistas do assunto, a solução sugerida, é a mesma. Renunciar a tarefa de ensinar uma literatura reconhecidamente instigante e audaz, em favor de uma solução fácil: curvar-se aos interesses do mercado da indústria cultural que pautam os gostos e as leituras. 

Essa lição tem como efeito apenas tornar os professores sujeitos ao gosto médio. “Não existe nada pior do que o gosto médio” dizia Ariano Suassuna. Rebaixar a literatura com a intenção de a torna mais acessível ao público; essa ação não tem nada de educativa. Mas diz muito de nosso comportamento diante dos desafios. Além disso, ela subestima a capacidade do aluno, que talvez esteja apenas pouco estimulado, mas não desinteressado. Remover os obstáculos num passe de mágica e insinua que a tarefa de aprender não exige esforço, dedicação, empenho, luta com as palavras, como já dizia o poeta, é o mesmo que azeitar a engrenagem da aprendizagem com areia.

Outra coisa. O texto da professora parte de um pressuposto ilusório, (perdoe-me a pretensão, mas é assim, que por ora enxergo) de que os alunos estão cativados pelos livros da moda e não iludidos pelo gênio da publicidade que os mesmerizou. A sugestão da professor tem o efeito de criar um círculo vicioso em que esse tipo de literatura, chamado eufemisticamente de despretensiosa (de despretensiosa ela não tem absolutamente nada) vai pouco a pouco tangendo os grandes autores para o limbo das obras difíceis. De lá eles terão pouco a oferecer às gerações de leitores que desconhecerão as suas potencialidades transformadores.  

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