Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud



Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud!
Os teus dezoito anos rebeldes à amizade,
à malevolência, à estupidez dos poetas de Paris,
tal como ao zumbir de abelha estéril da tua família meio louca das Ardenas; fizeste bem em lançá-los todos aos quatro-ventos,
em submetê-los à lâmina da sua precoce guilhotina.

Tiveste razão em trocar os bulevares dos ociosos,
os bares dos mija-rimas pelo inferno das bestas,
pelo comércio dos manhosos e os bons dias dos simples.
Este impulso absurdo do corpo e da alma,
esta bala de canhão que atinge o alvo,
fazendo-o explodir, isso sim, é a vida de um homem!
Não se pode, saído da infância, estrangular indefinidamente o próximo.

Se os vulcões pouco mudam de lugar,
a lava percorre o grande vazio do mundo
e concede-lhe virtudes que cantam nas suas chagas abertas.

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Alguns de nós acreditam sem provas na felicidade possível contigo.


René Char (1907-1988), França.

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