Da dessemelhança

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As poucas décadas de nossa débil democracia evidenciam-nos um fato. Os nossos homens públicos se apequenam com o trato da coisa pública. Muitos começam grandes e vão se rebaixando a tal ponto deles não se ter mais notícia. Entre nós, hoje em dia, é incomum encontrar um político que se obstine de uma ideia louvável no princípio de sua carreira e dê cabo dela sem tropeçar nas mesmas vilanias que seus pares viciados. Nada nos nossos políticos parece estável. Não se pode confiar em suas crenças e nenhuma de suas convicções, estão tão bem assentadas num rumo que não possam alterar bruscamente o seu destino de acordo com novas conveniências que, vão interpondo-se pelo caminho. Raros são os que preservam o mesmo vigor reformista e transformador que, segundo muitos, os trouxeram aos palanques. Dir-se-á quem os observa que, não há um único sentimento de virtude neles que não seja prontamente seguido por um dilúvio de males. Na trajetória de suas vidas muitos faroleiros da moralidade deixaram à deriva ou levaram à pique embarcações que contavam com esse guia para atingir porto seguro. Uma vez enfeitados com os favores do mundo, julgamos que nossos administradores não são mais os mesmos homens. Já não conservam mais inteiros e vivos os entusiasmos de antes. Embaraços, infâmias, crimes e delinquências de toda ordem, contradizem as suas origens. Suas ações parecem não mais provir daquele mesmo indivíduo que se negava em conduzir a sua política percorrendo o caminho geral. Uma vez eleitos eles assumem os postos como feras, os conduzem como raposas, e por fim os entregam, ou lhes são tomadas as ocupações, como cães vadios. Há tantos exemplos semelhantes a estes e tão facilmente encontramos esses casos que, estranho mesmo seria imaginar os nossos políticos de outro modo.  É um vício que há muito censuramos nos nossos mandatários, este de serem após a investidura dos cargos públicos tão dessemelhantes daqueles indivíduos de antes. A experiência nos mostra todos os dias que existe grande diferença entre as súbitas determinações da alma e a sua conduta habitual.


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