Inquirição

Todos os dias quando vou para faculdade um Outdoor no telhado de uma empresa química, em meio a fuligem das chaminés me inquire em letras maiúsculas: VOCÊ JÁ PECOU HOJE?

Todos os dias a resposta é a mesma. 

Disfarçado de moralidade as religiões empreendem a conquista de rebanhos mansos aos currais do céu.  

As invasões bárbaras

Na época em que o cinema, ainda não havia sido colonizado por vampiros com espinhas no rosto, aprendizes de bruxaria e outras merdolas, podia-se desgastar os olhos nas salas escuras, sem temor de ter com isso, comprometido também, outras partes do corpo.

Umas botas, somente umas botas de Espanha.

170 milhões infringidos goela a baixo.

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Não foram apenas 170 milhões furtados do erário público, mas toda dignidade de uma nação. Bem não de toda, uma parte dela que mais uma vez se sentiu empalada. Um nada – dirão alguns para justificar a sua leniência - comparado a tantas outras violências históricas a que fomos submetidos. Por que então nos preocuparmos com isso? O melhor mesmo é abrirmos a temporada de troça às artistas globais, para assim neutralizarmos a vergonha das pretensões ideológicas no balaio da irreverência popularesca. O manual de más posturas sociais, aberto a todas as bandeiras ideológicas, uma coisa bem brasileira, ganha assim dia-a-dia capítulos novos. O que não nos falta são colaboradores para essa prodigalíssima empresa.

As regras do jogo

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Percebo que certos jogos tenham regras complicadas de entender, mas não me venham dizer que esta regra é difícil: roubou vai pra cadeia sem direito a embargos infringentes. 

Enquanto isso em Brasília...

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Em alguma esquina nas proximidades do poder em Brasília, mas bem poderia ser aí mesmo ao seu lado.

Os infringentes ou a impunidade coroada no país moralmente mais vergonhoso do mundo


Foto: Elliot Erwitt
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O verborrágico pronunciamento do ministro Celso de Mello com abordagens matizadas, ambíguas e favoráveis aos apelos dos CORRUPTOS ao uso de recursos ad infinitum, quando acossados pela justiça, reforçou a ideia geral do povo que, para alguns abençoados brasileiros, o mundo é um lugar sem culpa e sem repressão. 

Ao considerar a letra fria da lei como juízo a ordem, e fazer vista grossa aos apelos, dos que ele chamou de: “excessos da maioria contingente”; o magistrado ignorou como é costume em casos que envolvam grandes figurões em questão no banco dos réus, a emergência de uma sociedade que repudia e repreende os delinquentes, sejam eles membro da mais alta casta existente na sociedade, ou não. 

Mas o pior de tudo em seu pronunciamento foi a insensibilidade e o desprestigiar à ideia do povo nas ruas. As grandes transformações sociais só ocorreram com o povo nas ruas. Não perceber isso é um desplante. A tese de que a lei deve agir sem paixões, invocada pelo ministro, não esconde que há sempre nos argumentos jurídicos, quando em causa a liberdade de raposas, uma maneira de manobrar as necessidades com o tacão da lógica ilusória. É realmente temeroso acolher os sentimentos de ocasião, mas esse não era o caso. O voto de outros ministros dava sustentação jurídica à recusa dos embargos infringentes e a histórica sensação de justiça devida ao povo legitimava a liquidação da fatura dos mensaleiros. 

O ordenamento social histórico, com base no abrandamento entre as normas e a conduta, tão típicos no país, acabou, por fim de duas horas de pronunciamento, realinhados para permitir aos marginais no poder todas as garantias e favores da lei. Ao povo restou o sentimento de fracasso na luta contra os malfeitores de plantão, que em algum gabinete ou secretária ministerial muito bem confortável em sua impunidade e ar-condicionado tramam novos planos de poder.