A coragem adiada ou sob o abrigo do medo



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Talvez seja por meu ceticismo crônico, ou a simples falta de evidência. Seja lá qual a razão, o certo é que, não dou o menor ouvido às predicas de fim de mundo, que andam assustando as pessoas por aí. Ao se aproximar a apocalíptica data dos crentes do calendário maia, a única coisa que me acossa o juízo, é saber que esses messias, continuarão criando outras formas de dar cabo à existência humana, tão logo esse frenesi seja providencialmente esquecido. 

Estamos mesmo condenados a viver pelo medo, arrastando pelos séculos a firme esperança de prever ora em formatos de plantas ou tripas de animais, ou como agora nas fantasias de uma civilização pretérita, todas as nossas fraquezas de espírito e incertezas da alma. Não houve um único momento na história da humanidade em que os homens não deixaram de prever sinais de mal auguro em tudo. Investidos, como acreditavam, do mais puro sentimento, eles alardearam todo tipo de terror. Transformaram assim o mundo numa morada perpetua do medo. 

A julgar pelos presságios do passado, foi por um milagre, ou mero erro de cálculo - afirmam os empedernidos - que nos permitiu chegar, sãos e salvos ao presente. Porém, outros, abnegados visionários, muito bem dispostos, não perderam ainda, malgrado nossas esperanças, a determinação para consertar “todos os equívocos do passado”, e reinstauram, de tempos em tempos, uma nova previsão de catástrofe, que sucumbirá a humanidade, dessa vez sem sombra de dúvidas, para sempre. 

Enquanto muitos vão contando os fins dos dias eu passo as horas sonhando com as manhãs. Nada me demove a alegria de estar vivo e cultivando a vida. Quem deseja catástrofes vive em catástrofe. A única rota de colisão possível do homem é contra si mesmo e seus demônios. Em tempo, levo a vida desassombrado desses seres. 

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