A sede que nunca acaba

Inquirido durante o Jornal da Cultura de hoje (15), sobre a possibilidade dos EUA interferirem ou influenciarem nos protestos que depois do Egito tomam agora as ruas do Teerã, o geógrafo e sociólogo Demétrio Magnoli, descartou categoricamente essa hipótese afirmando que “os Estados Unidos podem no máximo fazer comentários sobre o que acontece no Irã”.

Será mesmo? Só comentar? A história diz o contrário. A política americana desde a presidência de Andrew Jackson, sétimo presidente dos Estados Unidos, foi sempre marcada pelo intervencionismo e desrespeito a autodeterminação dos povos.

Com um discurso pretensiosamente mascarado pela difusão da liberdade entre os povos, os Estados Unidos desenvolveram a doutrina do “Destino Manifesto”, que expressa a crença de que eles seria o povo eleito por Deus para conduzir o mundo.

Tais ideia que inicialmente serviram para justificar a tomada do Texas e posteriormente a Califórnia, Novo México, Arizona, Uthar, parte do Colorado, Oklahoma, Nevada numa guerra contra os Mexicanos no final do século XIX, ampliou-se no inicio do século XX quando eles invadiram o Vietnã, fomentaram as revoltas no Panamá contra a Colômbia, tentaram uma intervenção em Cuba durante a revolução, alimentaram ditaduras no Brasil, Chile e Argentina, sustentaram regimes no mínimo suspeitos na África e no Oriente Médio e culminaram com a invasão no Afeganistão e Iraque.

Em nome da defesa da democracia, do respeito aos direitos humanos o governo de Washington, quer na verdade, garantir acesso aos riquíssimos recursos naturais abrigados em qualquer parte do mundo. E se puder fazer isso sem aparecer tanto melhor. Com esse retrospecto de desrespeito e autoritarismo me espanta a ingenuidade de Magnoli em crer que os EUA não farão nada, para derrubar seu maior obstáculo na consolidação de sua hegemonia na região mais prospera em petróleo do mundo, justamente agora que a oportunidade aparece.

Alguns minutos antes da fala de Demétrio Magnoli no Jornal de Cultura, assisti no Jornal Nacional uma matéria que justificava o questionamento da apresentadora Maria Cristina Poli ao geógrafo, e que é uma sensação de todos, menos do geógrafo. A matéria dizia que: “A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, anunciou a liberação de US$ 25 milhões para projetos que ajudem ativistas a driblar a censura na internet imposta por regimes autoritários. Esse tipo de censura foi usado, por exemplo, no início dos protestos contra Hosni Mubarak.”

Será que o Demétrio ainda acredita nas boas intenções dos EUA?

Nenhum comentário: