A PROPÓSITO DA LIBERDADE

Por feitio sou daqueles que acreditam na liberdade e no desejo de liberdade a toda prova. Não há meio termo possível que possa dirimi essa disposição de espírito. Nem meios tons indefinidos me agradam. Não me ânimo mais a discussões ideológicas e apaixonadas que vejo serem inúteis. E cujo prólogo principia a guerra. Por isso não creio que governos que cerceiem a liberdade, se perpetuem no poder, devam ser respeitados ou defendidos. Sou radicalmente contra o encarceramento das vontades dos cidadãos ao desejo de qualquer governante. É ainda não tolero que uma vez que te decretaram que tens pneumonia, se comporte com um pneumático.

Nelson Rodrigues jamais foi um pornógrafo

Alexandre Frota: pornografia pra ninguém botar defeito. Nelson, não.

Não quero posar aqui de advogado do diabo. Não. Mas é que eu não suporto mais tanta injustiça que vem, ao longo de tantos anos, sendo praticada contra o mais visceral escritor do Brasil, o pernambucano Nelson Rodrigues, que, jornalista e já residindo no Rio de Janeiro, conseguiu a duras penas, montar a complexa Vestido de Noiva em 1943. Essa peça, graças ao espetáculo deslumbrante de Ziembinski e ao próprio enredo, inimaginável para a época, consagrou sua carreira de dramaturgo. Isso é o que distingue os gênios. Estarem à frente de seus tempos. Só.
Mas dali para frente, Nelson não viveria momentos de glórias e de louros, como merecia. Cada nova peça, cada entrevista dada, cada livro editado, seriam dores de cabeça tremendas para ele, porque os pseudoconvencionais não quiseram enxergar a vida como ela é, assim sendo, era – ainda é – mais cômodo acusar o dramaturgo de “imoral” e de “pornográfico” do que reconhecer seu enorme talento criador. Muito poucos deram a mão à palmatória. Percebo que coragem não ficou mesmo para todo mundo. A realidade é feia, cruel, amarga, as pessoas são mesquinhas, elas sim taradas sexuais e transtornadas, gente que alimenta os desejos mais abjetos, e o pobre do Nelson é quem tinha de pagar o pato? Exatamente. Seu grande erro: desmascarar a mesquinhez que vivia maravilhosamente encoberta da nossa melhor soçaite.
E outra coisa: quem disse que teatro deve ser passatempo? “Minhas peças são desagradáveis e teatro não pode ser bombom com licor”, dizia Nelson. Estou com ele e não abro. Boa literatura é aquela que choca, que provoca, que agride, que causa desconforto e náusea. (Daí porque sou contra os livros de auto-ajuda).
Dirão alguns que o sensacionalismo é a maneira mais fácil de chocar. De acordo. Mas acontece que Nelson nunca apelou para o sensacionalismo barato, infelizmente um consenso entre a maioria. Suas obras trazem uma história, marcada por tempo e espaço, e o sexo funciona simplesmente como pano de fundo. Sensacionalismo de verdade, em minha opinião, que faz muito bem é Alexandre Frota. Seus últimos filmes, sim, são a mais autêntica pornografia. Nelson, não.
Meu Deus do Céu, será que ninguém entende que essas obras são claramente morais? Nelson Rodrigues jamais se deleitou com a podridão, meu povo! Ele era um conservador ferrenho – talvez até mais do que eu ou você. Por isso acredito que Nelson sofreu (ainda sofre) uma perseguição violenta e incongruente. Escrevo este texto na esperança de que golpes baixos e barbaridades dessa natureza deixem de ser alardeados contra um mestre da nossa literatura dramática.

... END THE OSCAR GOES TO

Daqui a poucas horas teremos a octogésima edição do Oscar. Essa premiação que chama tanto a atenção do mundo tem razões que muitas vezes nos escapam. Assim, não é de se admirar que obras de qualidade duvidosa abocanhem inúmeras estatuetas. Enquanto outras com largar contribuição ao cinema, e reconhecimento da crítica especializada, saia mal na cerimônia. Podemos evocar muitos exemplos que se prestam a compreensão do que digo. Em quase sessenta anos de cinema Alfred Hitchcock criou um gênero, a saber, o suspense, e inúmeros tipos que ajudaram a impulsionar o cinema no mundo. Sobre suas obras Truffaut em livro memorável, disse: “seus filmes, realizados com um cuidado extraordinário, uma paixão exclusiva, uma emotividade extrema disfarçada por um domínio técnico raro..., desafiam o desgaste do tempo, e confirmam a imagem de Jean Cocteau ao falar de Poust: ´sua obra continuava a viver como os relógios no pulso dos soldados mortos´”. No entanto, todas as inovações e reconhecimento não foram suficientes à academia, que o indicou seis fezes ao prêmio de melhor diretor, mas só lhe deu o prêmio de consolação pelo conjunto da obra em 1968. A esse gigante ignorado completam a lista nomes como Stanley Kubrick, Fred Astaire, Orson Welles que dirigiu e atuou em seu primeiro filme Cidadão Kane (1941) apontado por nove de cada dez críticos, como o melhor filme feito até hoje, isso tudo com 24 anos de idade, ainda ficaram de fora da premiação, Federico Fellini que só ganhou o honorário; Charles Chaplin, Greta Garbo... Parece que os holofotes de Hollywood são miopias. Enxergam apenas cifrões.


... COMO DEUS CRIOU A MULHER

Juliette Binoche no filme A insustentável leveza do ser.

O cinema francês não se cansa de produzir belas e talentosas divas, para deleite do público de todo o mundo. Desde o advento de Brigitte Bardot, que fundou definitivamente o padrão de beleza cinematográfica na França, nenhum outro diretor se arriscou em comprometer sua película, deixando de fora uma deusa. Como uma formula pronta para atrair publico, eles carregaram as telas dessa presença arrebatadora chamado: símbolos sexuais. Assim, também o publico antes reprimido, passou a ver nos filmes o que só se passava em suas cabeças. A aparição de Brigitte Bardot no filme, ...e deus criou a mulher, do diretor Roger Vadim, no auge de seus dezessete aninhos pra lá de erótica, tornou, à partir da ai, o cinema nada inocente. Pelo contrário incendiou as salas escuras de uma beleza plástica incomum e reinventou a sexualidade. De lá para cá, multiplicaram-se as presenças divinas nos filmes. Catherine Deneuve, musa do cinema de Buñuel foi o sensação dos anos 60 ao estrelar a fita A Bela da Tarde. Nela Deneuve interpreta uma burguesa reprimida sexualmente que à tarde foge de sua vida medíocre para se entregar aos prazeres mais luxuriantes num bordel. Isabelle Adjani, Juliette Binoche, Irene Jacob, Emmanuelle Béart, Marion Cotillard, Laetitia Casta, Ludivine Sagnier, Audrey Tatou (por que não?) e mais recentemente Eva Green, fizeram do mero ato de assistir a um filme uma celebração à beleza. Nem mesmo os carrancudos intelectuais da revista Cahier du Cinema, resistiram a bruxuleante magia dessas mulheres. Há artigos e resenhas que mais pareciam cadernos de anatomia do que analises fílmicas, escreveu o crítico Antoine de Baecque. Difícil mesmo é deixa de se encantar por essas sereias.

O MEDO DO INFERNO

O líder da Igreja Católica em sermão aos fiéis no ano passado reafirmou sem meias palavras, que o inferno existe de verdade, não se trata de uma metáfora, mas de uma realidade concreta. Cioso de seu rebanho o papa Bento XVI lembrou a Bíblia, em sua incorruptível e invariável certeza, nas palavras de São Paulo e São Mateus. Em outra época, quando a Igreja guiava a ferro e açoite as vontades humanas, esse discurso ardia literalmente nos servos que por suas heresias e imprudência tinham seus atos corrigidos na fogueira, tal como no inferno que prega hoje o cardeal Ratzinger. Na teologia romana parece não haver outro sermão que não seja fruto do medo. “O medo, que esteriliza os abraços,(...)/ o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas.” O medo por toda parte, como em Congresso internacional do medo de Drummond. Tudo que a igreja católica tem para oferecer aos seus fieis, de ontem e hoje, não passam de conselhos apocalípticos e assombrações medievais. Menos brioso parece ser os discursos contra a própria igreja, que fecha os olhos e encobre os atos de pedófilos dos seus, ou nega-se a aceitar os apelos de muitos padres pelo fim do celibato. Se Deus existe, espero que Ele tenha uma boa desculpa para tudo isso.

MAIS LIÇÕES DE POESIA - O FERRAGEIRO DE RECIFE


Além dos autores, Mário de Andrade e Ezra Pound, que destaquei no post anterior como exemplos de autoridade literária sobre preceitos constitutivos do oficio poético, forçoso é lembrar outro nome, como o do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, quando o tema é poesia. Nele o rigor da forma e a expressividade do conteúdo exprimem como nenhum outro, até então, um acurado senso critico, traduzido num intransigente apego ao real e a lucidez mais extrema, em oposição ao lirismo e poesia dita inspirada. Acontece que com ele, a poesia deixa de ser etérea, perde seu caráter de oratória e finca pé no chão. Mesmo sendo, eminentemente, um poeta, João Cabral nunca se distanciou das reflexões que envolveram seu trabalho. Como escritor que nunca dissociou a condição e o trabalho de poeta da reflexão estética acerca da essência e função da poesia, Cabral acabou por se tornar, assim como que um, poeta-critico. E foi como poeta-critico que ele nos deixou em versos um sumário de suas idéias fixas. Como Octávio Paz se referindo a Fernando Pessoa alegando, que a biografia desse era sua obra, assim, sucede que com Cabral sua obra fala por si e dita, através de suas normas rígidas a tipologia de sua composição. A seguir um bom exemplo de como o imbricamento crítico de sua visão poética se traduzia em poesia.

O FERRAGEIRO DE CARMONA

Um ferrageiro de Carmona
Que me informava de um balcão;
“Aquilo? É de ferro fundido,
Foi a fôrma que fez, não a mão.

Só trabalho em ferro forjado
Que é quando se trabalha ferro;
Então, corpo a corpo com ele;
Domo-o, dobro-o, até o onde quero,

O ferro fundido é sem luta,
É só derramá-lo na fôrma.
Não há nele a queda-de-braço
E o cara-a-cara de uma forja.

Existe grande diferença
Do ferro forjado ao fundido;
É uma distância tão enorme
Que não pode medir-se a gritos.

(..............................................)

MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 1994. p. 595

O SECTARISMO METAFÍSICO DE ANTERO DE QUENTAL

Pintura: Antero de Quental, por Columbano Bordalo Pinheiro

Os poetas portugueses sempre foram afeitos a poesia metafísica, mesmo os realistas, como Antero de Quental (1842 - 1891) que exercitou largamente esse espírito poético. A metafísica portuguesa vem, segundo Massaud Moises, da compressão imposta pela natureza, que oprime uma pequena facha de terra que é Portugal, entre o mar e o resto do continente Europeu. Na impossibilidade de avançarem sobre largas fronteiras de terras, eles exercitam a fantasia. Os habitantes, e os poetas em particular, transcendem essa condição terrena de opressão, para um plano espiritual, realizando suas fantasias, sonhos e desejos, numa outra realidade, paralela aos acontecimentos terrenos. Nessa viagem ao mundo onírico, os poetas pretendem idealizarem um mundo onde eles possam atender aos apelos dos sentidos, dos desejos irrealizáveis na terra, como forma de expurgarem suas angustias e temores mais sombrios. Os poemas versam sobre verdades intimas como no Palácio de Ventura de Antero de Quental que descreve os sonhos de um cavaleiro –ele mesmo – na busca de um destino mais promissor: “Sonho que sou um cavaleiro andante” .... “Paladino do amor, busco anelante”... “O Palácio encantado da Ventura”... A produção poética de Antero de Quental está intimamente ligada a sua vida, esse poema corresponde a última fase de sua produção poética, fase de retorna a Punta Delgada, onde ele é acometido por uma estranha doença que lhe infunde pensamentos pessimistas e um desejo de evasão, de morte e solidão. Os versos seguintes aos de desejo de encontrar a boa sorte, ressaltam esse pessimismo: “Mas já desmaio, exausto e vacilante,”... e segue em tom derrotista: “Quebrada a espada já, rota a armadura”.... até desaguar na última estrofe em uma realidade que nem mesma a metafísica poderia lhe ocultar... “Abrem-se as portas d´ouro, com fragor/ Mas dentro encontro, só, cheio de dor,/ Silêncio e escuridão – e nada mais!”. Esse pequeno soneto metafísico de Antero de Quental expõe a melancolia e o tédio desse cavaleiro que busca, mesmo já rota a armadura, encontrar em meio às guerras no mundo, um porto seguro de suas dores, e uma recompensa por suas aventuras, mas só encontra, depois de longa jornada pela vida: “Silêncio e escuridão – e nada mais!”. Alguma semelhança com a realidade?

LIÇÃO DE POESIA



Os textos a seguir são de dois dos mais notáveis poetas e críticos literários do século XX. A leitura desses serviu-me de parâmetros para compreensão e entendimento do caráter poético. O primeiro dos textos é de Mário de Andrade, que ajudou a definir os rumos de uma geração, quando ao lado de Oswald de Andrade, deflagrou o movimento Modernista em 22, dando novos contornos e dimensões à literatura e aos comportamentos artísticos do Brasil na década de 20. O segundo é de Ezra Pound, que pode ser sem embargo considerado um dos expoentes da poesia do século passado. Um e outro tinham em comum, além da inquietação e o viço artístico, a preocupação com o desenvolvimento da arte da escrita e pretenderam, como se verá, ajudar futuras gerações. Os excertos foram extraídos, respectivamente, dos livros, Aspectos da Literatura Brasileira e A arte da Poesia.


“O ano de 1930 fica certamente assinalado na poesia brasileira pelo aparecimento de quatro livros: Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade; Libertinagem, de Manuel Bandeira; Pássaro Cego, de Augusto Frederico Schmidt e Poemas, de Murilo Mendes. Todos são poetas feitos, e embora dois deles só apareçam agora com seus primeiros volumes, desde muito que podiam ser poetas de livro. Mas quiseram escapar dos desastres quase sempre fatais da juventude. Se fizeram e fazem versos não é mais porque sejam moços, mas porque são poetas.

Essa me parece uma das lições literárias do ano. Quatro livros de poetas na força do homem. Acabaram as inconveniências da aurora. A poesia brasileira muito que tem sofrido destas inconveniências, principalmente a contemporânea, em que a licença de não metrificar botou muita gente imaginando que ninguém carece de ter ritmo mais e basta ajuntar frases fantasiosamente enfileiradas pra fazer verso-livre. Os moços se aproveitaram dessa facilidade aparente, que de fato era uma dificuldade a mais, pois, desprovido o poema dos encantos exteriores de metro e rima, ficava apenas... o talento. E já espanta, um bocado dolorosamente, esse monturinho sapeca de livros de moços, coisa inútil, rostos mais ou menos corados, excessiva promessa, resumindo: bambochata que não resiste à primeira varredura do tempo.

Devia ser proibido por lei indivíduo menor de idade, quero dizer, sem pelo menos 25 anos, publicar livro de versos. A poesia é um grande mal humano. Ela só tem direito de existir como fatalidade que é, mas esta fatalidade apenas se prova a si mesma depois de passadas as inconveniências da aurora.(...)”

ANDRADE, Mario de. Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1967, p. 27-28.


“Não use palavras supérfluas, nem adjetivos que nada revelam. Não use expressões como dim lands of peace (brumosas terras de paz). Isso obscurece a imagem. Mistura o abstrato com o concreto.Provém do fato de não compreender o escritor que o objeto natural constitui sempre o símbolo adequado.

Receie as abstrações. Não reproduza em versos medíocres o que já foi dito em boa prosa. Não imagine que uma pessoa inteligente se deixará iludir se você tentar esquivar-se obstáculo da indescritivelmente difícil arte da boa prosa subdividindo sua composição em linhas mais ou menos longas. O que cansa os entendidos de hoje cansará o público de amanhã.

Não imagine que a arte poética seja mais simples que a arte da música, ou que você poderá satisfazer aos entendidos antes de haver consagrado à arte do verso uma soma de esforços pelo menos equivalente aos dedicados à arte da música por um professor comum de piano.

Deixe-se influenciar pelo maior número possível de grandes artistas, mas tenha a honestidade de reconhecer sua dívida, ou de procurar disfarçá-la.

Não permita que a palavra “influência” signifique apenas que você imita um vocabulário decorativo, peculiar a um ou dois poetas que por acaso admire. Um correspondente de guerra turco foi surpreendido há pouco se referindo tolamente em suas mensagens a colinas “cinzentas como pombas”, ou então “lívidas como pérolas”, não consigo lembrar-me. Ou use o bom ornamento, ou não use nenhum”.

POUND,Ezra. Arte da Poesia, Ensaios. Tradução de Heloysa de Lima Dantas e Paulo Paz. São Paulo: ed. Cultrix, 1976, p.11-12.

MEUS POEMAS

LUTO

Ando meio dissoluto.
Em tudo na vida reluto,
E, enquanto mais luto,
Vejo-me tanto corrupto.

Já pedir um salvo conduto.
Quem sabe um indulto
Me faz bem menos bruto
E eu possa até dar fruto.

Conquanto os produtos,
Desse ventre tão fajuto
Serão por demais inculto
E darão, na certa insulto.

Não agüento esse furto
Assim sendo faculto
A quem queira frustro
Nem precisa consulto.


9 de fevereiro de 2008.

É PRECISO MUDAR TUDO PARA QUE NADA MUDE.

CANDIDATOS A PRESIDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS.

Os noticiários dos últimos dias têm dedicado muito atenção às eleições nos Estados Unidos. A corrida presidencial ao “posto mais importante do mundo”, domina os medias. Jornais, revistas, site e blogues destacam sem parar os episódios que podem decidir o futuro do próximo ocupante da Casa Branca. A nós, que proveito temos, em tanto interessa das mídias no futuro presidente norte-americano? A caminho do posto mais cobiçado do mundo, uma serie de questões, que interessam tanto a eles quanto a nós, estariam no centro de todo esse empenho jornalístico. A julgar pelo que vemos todos os dias e, se é certo que queremos fazer um melhor exame dos presidenciáveis, acreditando que temos interesses em comum, como crê a professora Maria de Aquino, eminência parda dos debates televisivos, estaríamos ai, na verdade, penso, nos enganando redondamente. O projeto americano de nação hegemônica independe do candidato que assuma em quatro de novembro. Uns mais ou menos conservadores não impor, todos asseguram, como bons norte-americanos, seu papel continuista de potência imperialista. Hillary Clinton, John McCain e Mitt Romney, que ainda resiste à disputa, diferem pouco entre si. Barak Obama, o estreante, conquanto pese sua inexperiência, profundamente explorado por seus opositores, usa o discurso reformista e engajado para atrair os eleitores. É inegável que o apelo por mudança nos rumos da política, conduzida até aqui com notável infelicidade por Bush pai, atraia tantos eleitores. Obama é um perfeito self-made man, que subiu na vida a despeito de todas as adversidades e revés. Filho de pai queniano e mãe americana foi criado na Indonésia e fez faculdade em Haverd. Seus discurso carismáticos seguem a tonica de outro líder, também muito popular, Martin Luther King. Porém, mesmo assim, não acredito em mudanças significativas na política de lá para o resto do mundo. O que poderá haver, caso Obama vença, é uma vitória simbólica de ideais. Agora dai até uma mudança significativa em posicionamentos como avanço industrial que mexe com questões ecológicas, equilíbrio na disputa entre judeus e palestinos, imigração latina, e principalmente, tolerância diplomática com o mundo árabes é vê pra crê. O embaraço americano, com as políticas de Bush, manchou a imagem dos lideres dos Estados Unidos e provocou a descrença em prováveis mudanças.

UM RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM – JAMES JOYCE

A história desse livro se confunde com a trajetória de seu autor. James Joyce (1882-1941) contava vinte e dois anos em 1904, quando escreveu um ensaio autobiográfico, para recém fundada revista Dana. O ensaio foi recusado pelos editores, que alegaram não poder publicar aquilo que não entendiam. Na verdade a objeção fio às menções a relações sexuais descrita pelo herói. Seja como for, Joyce resolveu trabalhar na continuidade do ensaio e transformá-lo em livro. Em 1914, dez anos depois, Um Retrato do Artista Quando Jovem chegava às suas páginas finais. Mesmo assim, o livro só veio a ser publicado dois anos depois em Nova York no ano de 1916. No seu primeiro romance, James Joyce descobre que podia se tornar um artista falando sobre o processo de se tornar um artista. No livro seguimos os passos do jovem Stephen Dedalus, alter ego de Joyce. Dos primeiros anos de sua vida à juventude libertária. Divididos em cinco capítulos, seus episódios variam na forma e no estilo para ajustar-se às diferentes idades e fases do seu herói. Diverso de tudo o que havia na ficção Inglesa da época, os romances típicos eram os de H. G. Wells e Arnold Benett, Joyce inaugura uma nova fase da literatura. O que nos faz pensar que a literatura escapa aos conceitos fechados e dogmáticos que muitos tentam impor. Seu caráter é sempre o da provisoriedade. Em Joyce a estrutura narrativa não mais se assenta em ações onde o impacto direto de um personagem sobre o outro tece o drama. O que vemos, ao contrário do que ocorria no romance comum, é uma descrição psicológica do personagem, como numa série de retratos e em estágios sucessivos de seu desenvolvimento. Joyce ainda introduziria largamente o uso do monólogo interior que enfatizava as ocorrências psicológicas no personagem. Com isso ele definiu um estilo, seguido de perto por muitos outros tantos autores como, Virginia Woolf e a nossa Clarice Lispector, que não escondia sua predileção pelo estilo psicológico à moda do Irlandês. A história do livro é contada sobre o ponto de vista de uma única personagem, Stephen Dedalus, que se move à deriva no mundo e parece fadado a um destino ordinário e macilento em Dublin, até fazer valer o vaticínio de seu nome e ganhar asas rumo a um novo destino, onde: “Estava destinado a aprender sua própria sabedoria independentemente dos outros ou a aprender ele próprio a sabedoria dos outros vagando entre as ciladas do mundo”. Além dos êxitos literários logrados com o livro, Joyce ainda livrou a literatura de heróis sensíveis. Finalmente, pudemos contar alguma história de emancipação moral e espiritual sem cair naquela pasmaceira romântica. Os cansativos personagens que povoavam as histórias de antanho, onde mocinhos trilhavam rudemente suas vidas e paixões até, que, eram por elas atropeladas, cedeu lugar a uma personalidade autodeterminante. Stephen Dedalus se reinventa. Lança-se em busca de sua aventura de escritor longe de casa da religião e de seu país. Rebela-se contra seu destino e tece sua própria trama. Uma lição e tanto para esses tempos, onde a vida passou a ser conduzida arbitrariamente, a revelia de seus entes, aos ditames da moda.