O SECTARISMO METAFÍSICO DE ANTERO DE QUENTAL

Pintura: Antero de Quental, por Columbano Bordalo Pinheiro

Os poetas portugueses sempre foram afeitos a poesia metafísica, mesmo os realistas, como Antero de Quental (1842 - 1891) que exercitou largamente esse espírito poético. A metafísica portuguesa vem, segundo Massaud Moises, da compressão imposta pela natureza, que oprime uma pequena facha de terra que é Portugal, entre o mar e o resto do continente Europeu. Na impossibilidade de avançarem sobre largas fronteiras de terras, eles exercitam a fantasia. Os habitantes, e os poetas em particular, transcendem essa condição terrena de opressão, para um plano espiritual, realizando suas fantasias, sonhos e desejos, numa outra realidade, paralela aos acontecimentos terrenos. Nessa viagem ao mundo onírico, os poetas pretendem idealizarem um mundo onde eles possam atender aos apelos dos sentidos, dos desejos irrealizáveis na terra, como forma de expurgarem suas angustias e temores mais sombrios. Os poemas versam sobre verdades intimas como no Palácio de Ventura de Antero de Quental que descreve os sonhos de um cavaleiro –ele mesmo – na busca de um destino mais promissor: “Sonho que sou um cavaleiro andante” .... “Paladino do amor, busco anelante”... “O Palácio encantado da Ventura”... A produção poética de Antero de Quental está intimamente ligada a sua vida, esse poema corresponde a última fase de sua produção poética, fase de retorna a Punta Delgada, onde ele é acometido por uma estranha doença que lhe infunde pensamentos pessimistas e um desejo de evasão, de morte e solidão. Os versos seguintes aos de desejo de encontrar a boa sorte, ressaltam esse pessimismo: “Mas já desmaio, exausto e vacilante,”... e segue em tom derrotista: “Quebrada a espada já, rota a armadura”.... até desaguar na última estrofe em uma realidade que nem mesma a metafísica poderia lhe ocultar... “Abrem-se as portas d´ouro, com fragor/ Mas dentro encontro, só, cheio de dor,/ Silêncio e escuridão – e nada mais!”. Esse pequeno soneto metafísico de Antero de Quental expõe a melancolia e o tédio desse cavaleiro que busca, mesmo já rota a armadura, encontrar em meio às guerras no mundo, um porto seguro de suas dores, e uma recompensa por suas aventuras, mas só encontra, depois de longa jornada pela vida: “Silêncio e escuridão – e nada mais!”. Alguma semelhança com a realidade?

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