ENCANTADORA SEDUÇÃO


Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto...
William Butler Yeats



Ser linda e ganhar muito dinheiro desfilando não foram o bastante para Carla Bruni. Desde 2002 ela desfila outros dotes, não menos encantador e sedutor como os já demonstrados antes.

Ela agora fascina cantando. Seu álbum de estréia, Quelqu’un M’a Dit, um disco delicado e divinamente sussurrado em um francófono delicioso e sedutor, como vocês podem conferir aqui, tornou-se um dos álbuns mais falados em 2002.

Em 2007, Carla volta ao cenário musical com No Promises. Dessa vez juntando suas duas paixões, música e literatura, ela interpreta poemas de autores anglófonos, como William Butler Yeats, Emily Dickinson, Walter de la Mare ou Dorothy Parker.

Ainda não pude conferir o resultado. A produção cultural européia seja ela de cinema, música, literatura, demora uma eternidade pra chegar ao Brasil. As edições importadas são uma fortuna. É por isso que o mercado paralelo incha cada vez mais. Desmoralizando indústria e viciando o sistema. Assim, saem perdendo autores, fãs e a cultura.


PECADOS DO EXCESSO

Matéria do Jornal da Globo de ontem, destaca baixa expectativa de vida entre os roqueiros. Com base em uma pesquisa cientistas ingleses descobriram que a media de idade, entre os roqueiros de sucesso, não passa de 35 anos na Europa e 45 nos Estados Unidos, quando a media é quase o dobro da taxa geral da população.

O motivo: abuso de drogas, bebidas e o suicídio. As chances de morrer nos primeiros cinco anos de sucesso são maiores. A idade mais perigosa é 27 anos.

Foi com essa idade que três das maiores lendas da contra cultura morreram nos anos 60. Janis Joplin, Jimi Hendrix, e Jim Morrison o vocalista do The Doors. Ambos vitima dos excessos. Outro, que completa o rol de famosos que também morreu com essa idade, foi o vocalista do Nirvana, Kurt Cobain, que se matou com um tiro.

A funesta estatística constata que a alta mortalidade das estrelas da música acontece nos primeiros 25 anos de fama. Os que escapam a essa fase passam a viver, segundo os pesquisadores, como a maioria dos mortais. O que explica fenômenos como Mick Jagger, Rod Stewart e Ozzy Osbourne.

Ninguém sabe, no entanto, explicar como Keith Richard, guitarrista dos Rolling Stones, ainda está vivo. Conhecido pelos excessos, ele declarou recentemente que cheirou, pasmem, as cinzas de seu pai com cocaína.

A vida passa e o mundo do Rock continua produzindo suas lendas.

UM NOVO DIA


Mas aí vem.

Um outro círculo

Um outro tempo

Uma outra hora.

E o meu coração

Em prantos que hoje chora,

Amanhã

Ao nascer do dia

Ao romper da aurora.

Em viva luz

Que anuncia o agora,

Dirá adeus

Para tudo o que me devora.

FOTOGRAFIA É ARTE?


O fato de levantarmos essa questão vem de uma inquietação pessoal, até aqui não resolvida.

Sempre questionei as idéias reducionistas que tentam enquadrar o conceito de arte como um conjunto de preceitos e regras rigidamente estabelecidas; hierarquizadas por um sujeito oculto, e aceitas sem reservas por quem queira.

Essa excitação se acentuou quando discutia com um amigo o valor artístico da fotografia. Ele contestava, afirmando ser ele também um artista, se tirar fotos fosse uma forma de expressão de arte. Poor boy...

Dizia, enervado, que a fotografia não passava de um esboço pálido e inútil para atingir a arte. Caprichoso esse amigo, não?

Eu não pude concordar com ele por duas razões. Primeiro que o oficio do artista não é uma licença, concedida a esse ou aquele homem – por mais que isso hoje em dia seja a norma – e que, mesmo ele desacreditando-se como artista, eu insistia; por que não ser um com uma máquina na mão?

Segundo que para mim, o valor que cabe como critério de arte - não importam os meios - é sua capacidade de inventividade e imaginação que, toda obra artística deve incutir.

Conjugados esses elementos -inventividade e imaginação- eles serão capazes de dar forma e organização a experiências simbólica, ricamente instrutiva.

A fotografia como expressão artística, altera as aparências e reinterpreta o mundo fazendo com que percebamos tudo a nossa volta em novos termos. Dando com isso, conotações artísticas a qualquer coisa. Afinal, o que faz com que algo seja arte e não apenas habilidade é por que, e não como, tal coisa é feita. O que devemos fazer são as perguntas certas para tirarmos o conceito de arte.

A foto que ilustra esse post, do artista francês Yves Klein, é um bom exemplo do que tenho tentado mostrar, desde então ao meu amigo, como de inventividade e imaginação fotográfica. Quem ao se deparar com essa foto não se inquietará com uma situação tão insólita. Um misto de desespero e surpresa.

Por sua natureza inventiva, o toque do artista, envolve necessariamente a imaginação. Sempre que observo essa foto, penso que, a ela caberia uma epígrafe como: Quando se ama o abismo, é preciso ter assas, do filosofo alemão Nietzsche. O anseio de expressar um sentimento de liberdade, a qualquer preso, é o que move os ideais heróicos de alguns homens. A foto recria simbolicamente esse espírito irrequieto.

Que outra imagem simboliza tão completamente esse ideário de liberdade? Houve e sempre haverá novas e variadas formas de alcançar metaforicamente essa idéia. A fotografia, assim com a pintura a música o teatro a literatura, representam respostas paralelas às expressões do mundo ampliando o nosso modo de ver e compreender a realidade.


A ARTE DE BAUDELAIRE


Ontem, dia 31 de agosto, completou 140 anos da passagem do poeta Charles Baudelaire, o maior de língua francesa. Seu legado poético, eternizado em um único livro intitulado, As flores do Mal, é o testemunho de uma época de vertiginosas transformações sociais e políticas na Paris do século XIX.

Sobre ele T. S. Eliot escreveu, é o grande arquiteto da poesia moderna e de todos os tempos. Com Baudelaire a poesia torna-se o dispositivo de uma consciência crítica e nevrálgica das questões sociais, ao atingir o mais elevado grau de lucidez e plasticidade visual. Essa percepção da realidade dominará os temas de sua obra que, não se furtará a pôr em nível superior, pela graça dos elementos mais torpes, os temas menos elevados, pois: eis que (ela, a poesia) redime até a coisa mais abjeta,/ E adentra como rei, sem bulha ou serviçais,/ Quer os palácios, quer os tristes hospitais.

Tamanha impostura poética antecipará em meio século os motivos da poesia moderna. É o que entende pelo menos Ivan Junqueira quando afirma: Acima de qualquer outro, é Baudelaire que antecipa não apenas os temas, mas também todo o processo estético da poesia moderna.

Outro pólo de sua obra sem a qual não podemos entendê-lo gira em torno de sua percepção sobre o trabalho do poeta. Baudelaire está sempre aludindo seu oficio as formas de um labor constante.

Teria ele cerca de vinte anos quando começou a escrever os primeiros poemas de As flores do mal. Sem presa, seus poemas foram muitas vezes, depois de escritos, reescritos, provavelmente destruídos, fundidos, refundidos, entalhados, polidos e esmerilhado ao longo de 27 anos, durante os quais amadurece sua concepção estética, nos diz Ivan Junqueira.

Incompreendido em seu tempo, seus poemas foram proibidos de circularem, acusados injustamente de imoralidade. A 15 de junho de 1857 a 6º Vara Correcional, que tempos antes já havia condenado por mesmo motivo Madame Bovary de Gustave Flaubert, condena Baudelaire à multa de trezentos francos, e censura 6 de seus poemas a não mais serem reproduzidos na coletânea das Flores do Mal.

Reproduzimos a seguir um trecho de um dos 6 poemas censurados pela 6º Vara Correcional intitulado Lesbos. Esse nome segundo os estudiosos da obra de Baudelaire seria o primeiro titulo da coletânea de poemas que mais tarde passou a ser chamada pelo poeta de As Flores do Mal. Acreditamos que esse gesto seja a melhor forma de homenagear o poeta, nunca deixando suas flores malditas serem esquecidas.

LESBOS

Mãe dos jogos do Lácio e das gregas orgias,

Lesbos, ilha onde os beijos, meigos e ditodos,

Ardentes como sóis, frescos quais melancia,

Emolduram as noites e os dias gloriosos;

Mãe dos jogos do Lácio e das gregas orgias;


Lesbos, ilha onde os beijos são como as cascatas,

Que desabam sem medo em pélagos profundos,

E correm, soluçando, em meio às colunatas,

Secretos e febris, copiosos e infecundos,

Lesbos, ilha onde os beijos são como cascatas!


Lesbos, onde as Frinéias uma à outra esperam,

Onde jamais ficou sem eco um só queixume,

Tal como a Pafos as estrelas te veneram,

E Safo a Vênus, com razão, inspira ciúme!

Lesbos, onde as Frinéias uma à outra esperam,


Lesbos, terra das quentes noites voluptuosas,

Onde, diante do espelho, ó volúpia maldita!

Donzelas de ermo olhar, dos corpos amorosas,

Roçam de leve o tenro pomo que as excita;

Lesbos, terra das quentes noites voluptuosas,

(...)